“Renova os teus milagres neste dia, como em um novo Pentecostes. Permita que tua Igreja, unida em pensamento e firme em oracão com Maria, a Mãe de Jesus, e guiada pelo abençoado Pedro, possa prosseguir na construção do reino do nosso Divino Salvador, reino de verdade e de justiça, reino do amor e da paz. Amém” (João XXIII). A RCC é a resposta de Deus a esta oração da Igreja.
Como sabemos, a Renovação Carismática Católica surgiu no final de semana de 17 a 19 de fevereiro de 1967, quando um grupo de jovens universitários da Universidade de Duquesne, nos Estados Unidos, teve a experiência que ficou conhecida como “batismo no Espírito Santo”, ou seja, a efusão do Espírito. Era como o voltar à atividade de um grande vulcão que havia permanecido “adormecido” durante séculos: a experiência deste “batismo”, a grande “erupção” do Espírito na vida de tantos católicos que viviam outrora friamente a sua fé.
A vivência dos carismas era algo muito intenso na vida dos primeiros cristãos. Era o cumprimento da promessa de Jesus ao dizer: “O Espírito Santo recordará tudo o que eu vos disse” . Os mesmos milagres que Jesus havia feito e até maiores, os seus discípulos também fizeram. A unção da pregação de Jesus também era presente quando seus seguidores proclamavam a Boa Nova. Era Jesus Vivo atuando pelo poder do Espírito Santo na vida da Igreja!
A Renovação Carismática Católica acredita firmemente. que esta experiência renovada do Espírito está acontecendo hoje na Igreja, e tem como missão propagar esta graça pelos quatro cantos da Terra, Deus derramou sobre sua Igreja esta graça especial que nós chamamos de Renovação Carismática Católica. O Espírito Santo é a alma da Igreja. É o motor da Igreja que a faz corresponder aos desafios próprios deste tempo.
Diante disto, Deus vai utilizando formas para que a sua graça penetre na Igreja e atinja toda a humanidade. Assim como Santa: Teresa, São Francisco, os monges, os eremitas e todos os santos e ordens fundadas são meios de que o Senhor se utiliza para fazer penetrar a sua graça na Igreja, no mundo e em cada homem, a RCC é também uma graça, com características e meios próprios, que Deus utiliza para esse fim.
Todos nós que tivemos essa nova experiência da efusão do Espírito Santo somos portadores desta graça para comunicá-la à Igreja e ao mundo. E . os Grupos de Oração são um dos canais de comunicação desta graça. Tudo devemos fazer para preservá-Ia. Devemos ter um zelo especial por ela, procurar vivê-Ia da melhor forma para poder comunicá-la de forma fiel, sem deformá-la, sem abafá-la, sem minimizá-la. A dimensão carismática é parte essencial da nossa vocação e faz parte da nossa missão. Se colocarmos isto de lado, estaremos sendo inúteis para a Igreja… Na hora em que isto não for importante para nós, estaremos preparados para morrer, porque seremos inúteis para a Igreja. Somos zeladores e comunicadores desta graça… E nossa responsabilidade acolher, animar, comunicar e viver bem esta graça… Todos nós somos responsáveis de vivê-Ia com qualidade e fazê-la multiplicar. Devemos ter um zelo especial para viver esta graça do batismo no Espírito Santo e do exercício dos seus carismas.” (Moysés Azevedo, 1996).
Todas as nossas ações devem estar impregnadas desta graça, porque elas acontecem em vista do desígnio de Deus. Reter esta graça é como reter uma grande fonte num dique. Todos nós precisamos, portanto, estar atentos para não frustrar o desígnio de Deus.
Deus nos constituiu para esta missão. Comunicar esta graça deve ser a nossa prioridade, tudo mais se torna secundário. Devemos estar mobilizados para isto.
O mundo está passando por transformações violentas em todos os níveis: social, econômico, cultural… e Deus nos convocou para comunicarmos esta graça. Precisamos tudo fazer em vista do cumprimento do desígnio de Deus. A graça do Espírito Santo é para toda a Igreja e para toda a humanidade; não apenas para um grupo de privilegiados, os místicos, mas para todos os batizados.
Recebemos uma graça específica a partir da experiência da efusão do Espírito Santo. “O Santo Padre Paulo VI dirigiu aos dez mil participantes reunidos na Basílica de São Pedro no dia imediato ao Pentecostes de 1975 (por ocasião do encerramento do Congresso Mundial da Renovação Carismática na igreja Católica), um discurso que continua sendo até agora, para a Renovação, o documento mais importante para conhecer o que a hierarquia da Igreja pensa e espera dela. Tendo acabado de ler o discurso oficial, o Papa acrescentou, de improviso, estas palavras: “Bebamos com alegria a sóbria embriaguez do Espírito” (Cantalamessa, 1996).
Esta experiência da sóbria embriaguez do Espírito, como já foi dito, realiza no homem uma purificação dos pecados, um novo fervor para o coração, um entusiasmo espiritual, como que um vulcão aceso e uma elevação da sua mente a um conhecimento especial de Deus, uma certa experiência direta de Deus, que “o leva a um estado no qual o homem se sente possuído e conduzido por Deus; porém um estado que, em vez de nos alienar, dissuadindo-nos do envolvimento com os irmãos, conduz-nos a esse dever, exigindo-o e frequentemente tornando-o mais fácil e glorioso… um entusiasmo, mas um entusiasmo baseado na cruz e que se alimenta da cruz” (Cantalamessa, 1996).
Todos estes fatos nos levam a afirmar que estamos dentro da vontade de Deus e respondemos a um pedido seu. Por isso, as reuniões dos grupos de oração devem ser momentos propiciadores da ex periência concreta de Deus, do encontro pessoal com Jesus Cristo, que transforma, muda e como que divide a nossa vida ao meio, que derrama sobre nós o seu poder e o seu amor. Um encontro com Jesus Cristo Ressuscitado que traz as marcas da paixão, como nos descreve o Evangelho de São João (20,19-29).
Este encontro também com a cruz de Cristo, na perspectiva da ressurreição, interpela a alma do homem. Tendo este experimentado o amor de Jesus, não se pode mais negar a ação dele em sua vida. Iniciou-se um relacionamento com o Ressuscitado, com Jesus vivo, real. Não é uma idéia, um pensamento, uma doutrina ou um relacionamento impessoal. Somos apresentados pessoalmente a Jesus. Ele toca a nossa alma, o nosso coração, o nosso corpo, todo o nosso ser.
Desta experiência brota a intimidade com Jesus, que nos fala e escuta; que nos olha e deixa-se olhar; que nos ama e deixa-se amar.
A partir da graça recebida, do contato íntimo com Jesus que produz muitas outras graças, somos impulsionados a ser suas autênticas testemunhas, a anunciá-lo a todos os que ainda não o conhecem: “Como o Pai me enviou, assim também eu vos envio. Tendo assim falado, soprou sobre eles e lhes disse: Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,21-22). Somos chamados a ser testemunhas concretas de que Deus cura, liberta, transforma a vida dos homens, porque aconteceu em nossas vidas.
“Não podemos deixar de falar das coisas que temos visto e ouvido” (At 4,20). “O que era desde o princípio, o que temos ouvido, o que temos visto com nossos próprios olhos, o que temos contemplado e as nossas mãos têm apalpado no tocante ao Verbo da vida - porque a vida se manifestou, e nós a temos visto; damos testemunho e vos anunciamos a vida eterna, que estava no Pai e que se nos manifestou, o que vimos e ouvimos nós vos anunciamos, para que também vós tenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com seu Filho Jesus Cristo” (I Jo 1,1-3).
Os grupos de oração também são um dos meios eficazes para que possamos comunicar esta graça da experiência pessoal com Jesus Cristo. Por isso mesmo devem ser vividos com todo o fervor, com todo o poder do Espírito, com a manifestação dos seus carismas. A oração comunitária deve ser vivida com todo o entusiasmo, como se ela fosse a última, capaz de fazer com que as pessoas que participam conosco sintam-se atraídas por Jesus, tenham uma experiencia com a sua salvação, a salvação cristã, que antes de tudo “não é apenas algo de negativo, um “tirar”, ainda que seja o pecado. E sobretudo algo positivo: é um “dar”, um infundir vida nova, vida do Espírito: “Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo” (Mt 3,1 1). É um renascimento. A destruição do pecado surge como o caminho e a condição para a doação do Espírito, que e o objetivo último, a doação suprema (Cantalamessa, 1997).
Além de tudo isto, as reuniões de oração devem ser também recheadas dos dons carismáticos. Não podemos ter medo de exercitá-los, pelo contrário, esses dons devem fluir livre e eficazmente para que este encontro seja cheio da ação e do poder do Espírito Santo.
O Espírito Santo é a alma da vida cristã. Omitir, deixar de ensinar, nao incentivar o exercício dos dons carismáticos do Espírito nos Grupos de Oração é deixar o encontro incompleto, é ferir a vontade de Deus, é diminuir os canais da ação de Deus no meio do seu povo. Os homens não querem apenas ouvir vozes que falem de Deus, mas ter uma experiência real com Ele. O Espírito Santo deve passar sem obstáculo por meio de nossas orações para que os encontros com Deus sejam sempre mais intensos e fecundos.